A pintura suja de Ana Romero - Professor Doutor Marcos Rizzoli
CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE
PINTURA EUROPEIA
3ª edição_ 20-23 JUNHO,_Porto
Pelo Professor Doutror Marcos
Rizolli – Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Brasil
Meu contato com a pintura de Ana
Romero, artista portuguesa que vive e trabalha em Póvoa do Varzim, no norte de
Portugal, se deu através de um trabalho como júri internacional vinculado a um
edital de chamada para artistas portugueses exporem coletivamente na Inglaterra:
o projeto PortugArt, uma idealização da também artista-curadora portuguesa Mara
Alves, há um tempo radicada em Londres. Entre os mais de 800 portfólios
enviados, 20 artistas foram selecionados – e, entre eles Ana Romero
Sua pintura, de imediato, chamou
minha atenção pela índole figurativa de seu trabalho que deliberadamente
suscitava contundentes rupturas com os cânones de representação da figura
humana.
Daquela época, 2016, para cá
mantivemos contato permanente através das redes sociais e, assim, tive a
oportunidade de acompanhar sua trajetória criativa. Então, da admiração
inicial, consolidou-se um acompanhamento crítico remoto, mediado por sucessivas
publicações de imagens de suas pinturas, desenhos e estudos anatômicos.
Daquela época, 2016, para cá
mantivemos contato permanente através das redes sociais e, assim, tive a
oportunidade de acompanhar sua trajetória criativa. Então, da admiração
inicial, consolidou-se um acompanhamento crítico remoto, mediado por sucessivas
publicações de imagens de suas pinturas, desenhos e estudos anatômicos.
Das primeiras impressões acerca
de sua pintura, minha cotidiana atuação como professor, pesquisador e crítico
de arte foi suscitando um interesse cada vez mais instruído em construir um
pensamento sistematizado sobre a produção pictórica de Ana Romero que bem
pudesse acentuar a sua antítese figural – tão contemporânea. Então,
laconicamente, apresento minha opinião: sua pintura é suja! Deliberadamente
suja.
Contraditoriamente, Ana Romero
dialoga com as imagens figurais clássicas, citando pinturas renascentistas ou
barrocas. Coerentemente, entre os contemporâneos, parece aproximar-se das
injúrias figurais de Francis Bacon, Lucian Freud e Jenny Saville ou, ainda, das
imagens irônicas dos italianos da Transvanguarda.
As pinturas sujas de Ana Romero
apresentam tripla dimensão:
1) As
formas anatômicas são sujas – transitando entre o retrato e o corpo humano,
suas figuras insistentemente apresentam deformidades. Rompem com a métrica das
expressões faciais, negam as posturas corporais ao desfazerem as justas
proporções e as adequadas volumetrias. Tudo na figura é deformação. Tudo é
visualmente constrangedor. A figura se apresenta, sobremaneira, como um mal
sintoma. A artista pinta aquilo que pressente das relações dos sujeitos com a
sociedade contemporânea;
2) As cores de suas pinturas são sujas – o preto,
que intervém nas superfícies expressivas das faces de seus personagens, e os
vermelhos de diversificadas intensidades, que sangram nas superfícies
anatômicas. As camadas lavadas de tinta que, como peles, recobrem as figuras –
faces e corpos – sugerem fragilidades, hematomas, feridas, cicatrizes;
Comentários
Enviar um comentário